O preço da fé...
Nos últimos dias, como acontece habitualmente, a comunicação social deu especial relevo às celebrações do 13 de Maio em Fátima. Acho normal, num país maioritariamente católico e para sempre ligado ao fenómeno Fado, Fátima e Futebol... mesmo em fim de semana de grandes decisões no campo desportivo os holofotes estiveram durante muito tempo centrados na multidão que invadiu o Santuário.
Já fui ao Santuário de Fátima. Apesar de ser um católico pouco praticante não deixo de ter a minha fé (acho que todos a temos, apesar de alguns não saberem em que acreditam). E ao chegar a Fátima há duas ou três coisas que me assaltam a consciência e me levam a pensar que até a fé se paga neste mundo.
Ora não me parece de todo normal que na zona, na qual, qualquer peregrino pode acender uma, duas, três... as velas que bem entender... encontremos um amontoado muito estranho de cera em chamas, pronta a ser recolhida para que outros possam materializar a sua fé... sempre deixando a devida quantia monetária na caixa que existe para o efeito. Que negócio rentável!
Ainda mais se lermos com atenção o aviso que está na zona em que podemos "comprar" as velas. E que de forma bem clara incentiva os fiéis a deixarem o dinheiro... e as velas também, caso a zona onde são colocadas a arder esteja bem preenchida (A quanto está o kg de fé?).
Fátima é um negócio. A fé dos portugueses e dos milhares de turistas que chegam a Portugal por esta altura, acaba usada por todos quantos, no Santuário e em redor dele, procuram transformar cada avé-maria em mais 5 ou 10 euros. Será normal que o lugar onde Fátima terá aparecido aos pastorinhos seja nesta altuira o epicentro da fé capitalista?
Na minha opinião o erro está na forma como o espaço foi rentabilizado nos últimos anos. Um lugar sagrado como é este de que falamos deve valer pela riqueza que encerra em si mesmo e não pelo que foi feito à sua volta. Um espaço como o Santuário de Fátima devia estar isolado... devia ser respeitado... devia estar distante da fome de lucro que enche as ruas da cidade.
Mas parece-me que este é um processo inevitável. Ninguém o pode contrariar nesta altura. Tudo é negócio, tudo serve para fazer dinheiro... até o sofrimento e a fé de quem procura em fátima as respostas que o destino teima em não dar.
E este processo é tão inevitável que, este ano, a responsável pela comunicação do Santuário (sim, têm uma assessora) garante que nunca tinham surgido tantos pedidos de acreditação. Órgãos de comunicação nacionais e internacionais enchem o Santuário para dar conta do que por lá se passa nestes dias. E se dúvidas havia que cada vez mais as celebrações de Fátima se transformaram num circo mediático... vejam as imagens da procissão das velas... olhem para a imagem de Fátima e contem as centenas de flashs que a acompanham em todo o percurso que faz no recinto. São dezenas de máquinas fotográficas e de filmar... que servem para aproximar o fenómeno de Fátima do resto do mundo? É verdade!
Mas contribuem muito mais para transformá-lo num (ainda maior) negócio.
1 Comments:
De facto, não só neste como em muitos outros casos semelhantes, a fé por vezes transforma-se em negócio.
Mas uma coisa é certa também, no meio da euforia capitalista que se vive nesses dias, estão lá também pessoas que sentem e acreditam todos os momentos em que participam, e que merecem o nosso respeito.
A fé, afinal, não deixa de ser como os outros fenómenos mencionados. Senão vejamos, o Fado e o Futebol (e especialmente o futebol!), não são ambos grandes negócios?
Nestas coisas temos que ser realistas: há quem acredite e viva intensamente as suas crenças, e há quem viva intensamente a forma como essas crenças podem reverter a seu favor.
Não é o preço da fé, mas o preço do mundo de hoje.
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